Relato de uma manifestante presa durante o protesto da Operação 7 de setembro

Eu e meu amigo chegamos na praça do Derby pouco depois das 16h, atravessamos a praça e ainda ali percebemos uma quantidade EXORBITANTE de policiais, BPChoque,  PM, ROCRAP, ROCAM e GATI, todos posicionados após a ponte que liga a Agamenon com a Conde da Boa Vista.

Assim que chegamos na faixa que estava bloqueada pelos policiais, avistamos uma confusão, manifestantes e policiais se engalfinhando. Poucos segundos depois a primeira explosão, Bomba de Efeito Moral, na nossa frente, recuamos de costas em direção ao canal. Outra explosão, atrás de onde estávamos após fugir da primeira bomba, nesse momento eu que já estava de óculos de sol, coloquei um lenço preto estampado sobre a boca pois não poderia inalar o gás, saímos (sem correr em qualquer momento) pela faixa principal da Agamenon no sentido Olinda. Ainda estava rolando a confusão entre os manifestantes e os policiais, nesse momento, eu já estava gravando os acontecimentos, encontramos nosso outro amigo (o menor de idade) que estava gravando tudo desde o início. O pai dele estava exatamente onde os camburões da policia estava (onde uma manifestante foi recolhida de forma extremamente agressiva) tentamos então nos aproximar do local onde estava o pai do menor, então dois policiais ordenaram que saíssemos de onde estávamos e recuássemos um deles apontando a espingarda diretamente para mim (está registrado em vídeo) recuamos, estávamos cercados de todos os lados por policiais, na nossa frente pm’s e mais adiante o Choque organizando-se para a ação e atrás de onde estávamos (onde se encontravam outros manifestantes) policiais vestidos de preto, não sabemos a que policia pertencem, ali ao lado, vários manifestantes foram levados para o estacionamento externo de um prédio para serem revistados (ninguém estava com qualquer material comprometedor). Dois manifestantes foram arrastados pelos policiais para serem revistados.

Depois da revista, os manifestantes foram liberados e seguimos na faixa auxiliar da Agamenon, ainda sentido Olinda, para onde muitos manifestantes correram no inicio da confusão, estávamos em número máximo de 20 manifestantes. Percebemos que agora o BPChoque caminhava, como que em escolta, atrás de nós. Continuamos andando, o BPChoque acelerou o passo quando passamos o sinal, também aceleramos o passo, próximo do próximo semáforo, o BPChoque correu em nossa direção, todos corremos. Neste momento nós três nos separamos dos demais manifestantes atravessando a Agamenon em direção ao prédio daTER PE (Edifício Antônio Camarotti) seguindo depois para o Hospital da Restauração onde paramos na esquina embaixo de uma árvore para descansar. Depois de tomarmos um pouco de água dois homens passaram por nós, um deles estava com o pulso inchado e em carne viva, este nos contou que uma bomba de gás bateu no seu pulso o outro disse, vou levá-lo ao hospital.

Decidimos subir para o hospital para gravar o ocorrido com o homem. Não chegamos nem no meio da rampa, isso em torno das 17h ou antes, olhei para trás e vi um carro da polícia (patrulha do bairro Derby placa PGA – 3689, número de registro 5100083), pensei que eles estavam fazendo a ronda normal da patrulha, porém, estes nos abordaram pedindo que encostássemos na mureta da rampa, ficássemos de costas e com as mãos na cabeça, logo depois encostou outro carro da patrulha do bairro (Madalena II placa: PRA – 7579, número de registro: 510080), logo chegaram 5 motoqueiros (ainda não descobrimos de qual policia, apenas sei que estava escrito “motoqueiros” no colete deles), os PM’s já haviam procedido com a revista de nossas bolsas e com o baculejo nos meninos. Então um dos policias “motoqueiros” veio conversar conosco, pediram uma nova revista na bolsa do menor de idade e começou a nos questionar sobre nossas intenções no protesto e de irmos ao HR, ele disse que não poderíamos filmar nada pois não tínhamos licença de imprensa oficial, pressupôs que estávamos seguindo ao HR pra promover badernas e destruição do patrimônio entre outros, além de procurar saber onde iríamos depois de liberados, respondemos que voltaríamos ao protesto para tentar encontrar o pai e o irmão (que estava sumido desde o momento que encontramos o menor) do menor de idade. Depois dessa conversa, um outro policial de moto subiu a rampa e nos questionou sobre quem era o motoqueiro com quem estávamos conversando na esquina do HR, só que nenhum de nós conversou com nenhum motoqueiro naquele local (exceto os policiais).

Até então seríamos liberados, a máscara de Gabriel fora apreendida e meu lenço foi dado como material não proibido, os responsáveis do HR pediram que os policiais liberassem a rampa, então estes pediram que voltássemos à esquina do HR e aguardássemos nossa liberação. Depois de alguns minutos sentados esperando nossa liberação um outro policial chegou, falando alto e de forma grosseira, ordenando que fossemos encaminhados para a DP, este pediu que eu entregasse o lenço que estava em minha bolsa, fui pegá-lo porém demorei um pouco para conseguir tirar a bolsa das costas, o policial falou um pouco mais alto para que eu pegasse o lenço, pedi que ele tivesse calma, estão ele apontou o dedo na minha cara dizendo que estava calmo, o menor pediu também que ele se acalmasse e por costume usou o termo “tio” para referir-se ao policial, este apontou o dedo pra cara do menor e gritando disse: “vá falar assim com seu pai, comigo não”. O menor, assim como eu calamo-nos. Entreguei o lenço ao policial e aguardei, o policial (acredito que ele era o Sargento da PM) mandou que o outro nos encaminhassem para a DP e falou que deveríamos ser algemados. Me assustei e perguntei ao policial (J. Pereira) se era mesmo necessário nos algemar, este respondeu: “não, só se você quiser, o cliente é quem manda”. Então fomos colocados nos dois carros da patrulha do bairro, eu e o menor em um carro, nossas bolsas foram colocadas no porta malas deste veículo e nosso outro amigo foi sozinho para o outro carro, com sua bolsa em mãos. No caminho, liguei para amigos e peguei o número de advogados, contactei-o e expliquei nossa situação, este disse que enviaria advogados para nos ajudar.

Chegamos à DP de Santo Amaro, pouco antes das 18h, onde encontramos outras pessoas que já estavam detidas e o BPChoque estava montando guarda na porta da DP – SA. O policial que nos encaminhou para a DP – SA fez o registro de nossos documentos, números de telefone e endereço e ficamos aguardando nossa liberação, já prometida pelo Delegado, lá haviam advogados que estavam cuidando dos casos encaminhados do protesto.
Vários jornalistas procuraram-nos para dar entrevistas e afins, em um dado momento fomos colocados em uma sala separados de todos os outros da delegacia e observados pelo policial que nos encaminhou, logo depois, o companheiro deste policial deu a notícia de que seríamos encaminhados para a GPCA por conta do nosso amigo menor de idade (supomos, pois nada nos foi explicado).

Chegando na GPCA, nos sentamos e o comissário em conversa com os policiais que nos acompanhavam perguntou porque nos “pegaram” disse: suspeitaram que eles estavam com Coquetel Molotov?”, não ouvi a resposta dos policiais, novamente o comissário: “mas apreenderam o Coquetel”, os policiais responderam: “não”. O número da ficha onde anotaram nossos dados (nós dois maiores de idade) é: 6462330. O comissário conversou conosco e explicou que (tinham 4 jovens também sentados no corredor que estávamos) estavam ali por um flagrante de tráfico e que esperaríamos todos serem ouvidos e o vídeo das câmeras da SDS chegarem para que pudéssemos depor e finalmente pudéssemos ser liberados. Após algum tempo um maior de idade e mais dois menores chegaram na GPCA, estes foram detidos quando foram comprar água em um restaurante próximo à DP – SA.

Pouco depois das 21h (cerca de 21h 37 min) fomos ouvidos pelo escrivão da CICA na presença de três advogados e do próprio delegado que estava à serviço. Prestamos uma declaração simples apenas para ser encaminhada ao ministério público.
Fomos liberados e os outros três manifestantes apreendidos próximo à DP – SA permaneceram lá. Até agora não sabemos da situação deles.

Acho que tudo foi dito.

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