Eu, Carolina Figueiredo de Sá, estudante do mestrado em Educação neste centro, gostaria de, por meio desta, agradecer publicamente o forte apoio e solidariedade prestados por diversos professores da UFPE, estudantes e advogados quando de minha detenção na última manifestação estudantil em defesa do passe livre.
No dia 23 de outubro, participei do 10º protesto pelo passe livre em Recife, que contou inicialmente com cerca de 300 estudantes. As escolas da região central tiveram suas aulas canceladas (!) pela manhã, no intuito de diminuir a participação estudantil no ato. Porém, jovens de pouca idade, mas muito entusiasmo, mantêm-se mobilizados desde os grandes protestos de junho. Tribos e estilos variados, mas com reivindicações comuns, e uma clara percepção de que é preciso lutar para obter mudanças. Renovadas as esperanças de minha geração e de outras que me antecederam, o que vi foi que nem mesmo a violência desmedida e injustificável da polícia contra os estudantes os fizeram desanimar.
Vinha acompanhando as notícias sobre os protestos dos últimos meses, mas desta vez, presenciei aquilo que vem sendo frequentemente denunciado em diversos estados: as arbitrariedades e a brutalidade ostensiva das forças de repressão, bem como a distorcida (se não, mentirosa) cobertura da grande imprensa sobre os fatos, salvo algumas exceções.
Logo pela manhã os programas de rádio ‘alertavam’ a população de que haveria uma manifestação de “baderneiros e mascarados” na cidade. Vejo um duplo objetivo nisto: influenciar os pais dos estudantes a não permitirem que estes fossem ao protesto, e, ao mesmo tempo, gerar um ambiente de temor que legitimasse antecipadamente a violência policial perante a sociedade.
De fato, a polícia pressionou muito desde o início da manifestação, com diversas provocações, tomando à força bandeiras e escudos dos estudantes, sem nenhum motivo. Na Visconde de Suassuna, alguns policiais adentraram na passeata e um adolescente foi preso simplesmente porque portava um deles. Vários estudantes tentaram impedir sua prisão, mas a polícia abriu fogo generalizado; uma verdadeira saraivada de balas de borracha, de uma ponta à outra da rua, acertando mais de uma dezena de estudantes que corriam – perplexos e indignados.
Após o cuidado com os feridos (socorro este, dificultado pela polícia), a manifestação prosseguiu em direção à GPCA, delegacia para a qual o jovem detido havia sido levado, para exigir sua libertação. No caminho, vi uma jovem de 16 anos ser brutalmente jogada no chão pelo oficial militar que comandava a operação, dando início à outra confusão. Ela, juntamente com outros estudantes, apenas gritava palavras-de-ordem contra a cobertura da imprensa. Ao tentar defendê-la, também fui agredida, derrubada no chão, tendo o rosto pisado contra o asfalto pelo policial militar, e levado dois tapas na cara, já imobilizada. Ambas fomos conduzidas para a GPCA, e, no trajeto, a adolescente ainda continuou sendo agredida com puxões de cabelo pela policial feminina – ao que reagi, coibindo novas agressões.
Diante do quadro que temos visto em todo o país, em que estudantes e professores detidos em protestos são frequentemente acusados de “formação de quadrilha”, “aliciamento de menores”, dentre outros crimes, a preocupação era de que o mesmo acontecesse comigo e os dois adolescentes presos. No entanto, todo o apoio político e jurídico recebido por nós foi fundamental para que fôssemos soltos no mesmo dia.
Assim, agradeço à direção do Centro de Educação, na pessoa do professor Daniel Rodrigues, e os professores Rui Mesquita, Socorro Gomes e Luís Momesso, que estiveram pessoalmente na delegacia, transmitindo força e confiança naquele momento, bem como à professora Ana Cláudia R. Pessoa, minha orientadora, que prestou seu apoio e solidariedade.
Agradeço também aos advogados Maria José (que esteve presente mesmo tendo outros planos para seu dia de aniversário), Noélia Brito (que nos defendeu em meio às suas férias), Érik de Souza (que também tem acompanhado vários protestos estudantis) e à ADUFEPe, que disponibilizou sua assessoria jurídica.
Ao Diretório Acadêmico de Pedagogia da UFPE e a todos os estudantes que se mantiveram em vigília até o final do dia, pressionando por nossa liberação imediata, meu agradecimento e admiração pela dedicação à luta.
Carolina Figueiredo de Sá
28 de outubro de 2013