Violência contra a Saúde Pública: Estudo alerta para correlação entre gases utilizados em armas não letais e doenças graves

fumaça

Pesquisa realizada pela Dalla Lana School of Public Health da Universidade de Toronto revela os riscos relacionados à exposição intensa ao gás lacrimogênio. Problemas respiratórios e dermatológicos graves e até mesmo câncer estão entre as patologias associadas ao emprego de armas até então consideradas não letais.

Através da análise de 10.000 prontuários médicos de militares estadunidenses de diferentes faixas etárias, a equipe de pesquisadores liderada pelo PhD, Howard Hu, da DLSPH (Universidade de Toronto) demonstrou a correlação existente entre a exposição constante ao gás lacrimogênio e a ocorrência de sérias patologias.

“Finalmente conseguimos demonstrar que a utilização de gás lacrimogênio para a dispersão de massas afeta intensamente a saúde. Mesmo entre militares e policiais que até então consideravam-se imunes registramos um aumento de 80% nas ocorrências de sérios problemas respiratórios e um aumento de 60% nos casos de câncer de pulmão, cérebro e sangue. Nao é a primeira vez que nos deparamos com o chamado “chemical Breech”. Manifestantes e policiais desconhecem o quanto isto é alarmante” – Afirma o pesquisador.

Retomando pesquisa iniciada em 2010 com resultados parciais apresentados no artigo Biomarkers of Lead Exposure and DNA Methylation within Retrotransposons, a equipe do professor Hu recentemente lançou um relatório de mais de 400 páginas compilando seus estudos. O relatório conclui com um alerta voltado para que os governos e estados deixem de utilizar armas químicas durante protestos e manifestações.

Já existe quantidade significativa de evidências científicas para propor a alteração da nomenclatura do gás lacrimogênio e do spray de pimenta de “armas não letais” para “armas de potencial letal”. O gás, quando inalado, interfere diretamente na metilação do DNA e, quando em contato com a pele, é absorvido diretamente pela corrente sanguínea, alterando o microRNA dos linfócitos T. “E isto é só o começo, não há como prever como o corpo de cada indivíduo reagirá, a longo prazo, a exposição ao gás, entretanto os efeitos potencialmente letais devem ser considerados diante do montante de evidência acumulado desde os anos 50”, pondera o professor que considera também a necessidade de novas pesquisas sobre os efeitos do gás sobre a população civil.

O pesquisador relembra ainda que a correlação entre câncer e armas bioquímicas não é algo desconhecido. Estudos realizados após a Segunda Guerra Mundial já apontaram anteriormente para a correlaçao entre o uso de gás mostarda e o aumento de 127 vezes na ocorrência de câncer entre militares expostos.

No Brasil, nos últimos dois anos já foram registradas dez mortes decorrentes da utilização de gás lacrimogênio durante manifestações. Relatos vindos de diferentes hospitais apontam uma ampliação das taxas de policiais e manifestantes que receberam atendimento por problemas respiratórios desde o início das manifestações contra o aumento das passagens.

Segundo as informações divulgadas pela organização Médicos Sem Fronteiras, manifestante e policiais têm procurado o serviço ambulatorial reclamando de falta de ar, respiração encurtada, chiados no peito (popularmente conhecido como “miado de gatinho”) e, nos casos mais graves, excreta de uma secreção amarelada.

Em quadros clínicos de intensa exposição, os alvéolos começam a secretar uma substância capaz de aumentar a concentração de oxigênio no corpo, forçando a expulsão dos gases tóxicos. Embora tais condições não produzam necessariamente ao desenvolvimento do câncer, especialistas advertem que policiais submetidos a esta situação por longos períodos podem desenvolver a patogenia, havendo um comprometimento na capacidade de renovação celular.

Entre manifestantes atingidos pelo gás lacrimogênio em manifestações são observados casos de dermatite severa, os quais podem evoluir para infecções dermatológicas. A principal orientação médica que ao primeiro sinal de mal estar e queimação nos olhos e na pele, qualquer pessoa atingida deve imediatamente procurar atendimento nos pronto atendimento dos hospitais.

projéteis vencidos encontrados nas ruas de São Paulo.

projéteis vencidos encontrados nas ruas de São Paulo.

Nos protestos de junho de 2013, a mídia corporativa divulgou o uso irresponsável do gás pelas autoridades policiais. Em Belém, uma gari que inalou o gás em protesto morreu. Em São Paulo, Porto Alegre e Belo Horizonte foi comprovado que os gases usados nas manifestações estavam vencidos. A informação no corpo do projétil alerta para a não utilização da arma química após o prazo de validade, contudo, indo na contramão de estudos científicos internacionais aqui divulgados, a Polícia Militar de São Paulo afirma que isto não afeta a saúde das pessoas. O risco “seria apenas para o agente de segurança, pois o tempo para o início da queima poderá ser abreviado”.

Abaixo segue alguns artigos (em inglês) sobre os perigos do gás lacrimogênio para a saúde:

Materia enviada via email pela RAAIP – Rede Anticapitalista e Apartidária de Informação Política

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